Pesquisa inédita - Crianças e telas no isolamento
Um estudo inédito conduzido pela pesquisadora Daniela
Teixeira, mestre em Consumo pela Bournemouth University, na
Inglaterra, mostrou que oito em cada dez pais recorrem às telas como
distração para os filhos para que consigam realizar suas atividades de trabalho
ou de casa durante o período de distanciamento social imposto pela pandemia da
Covid-19. A pesquisa revelou ainda que duas das três principais atividades
em que os pais mais veem os filhos envolvidos durante o isolamento incluem
telas. passatempo para os filhos para conseguirem realizar suas
atividades. Importante ressaltar que quase 90% dos pais entendem este momento
como transitório e acreditam que o tempo de tela dos filhos deve diminuir com o
fim do isolamento", afirma Daniela Teixeira. "Entender que o período de isolamento é transitório é tão importante quanto evitar
que uma rotina passageira se torne um hábito corriqueiro. Para isso, os pais
precisam estar atentos ao papel das telas dentro de casa, em todo o núcleo
familiar, não apenas para as crianças. É, ainda, uma oportunidade para as
famílias mergulharem neste universo, compreendendo os riscos e as consequência
do uso indiscriminado das telas para melhor orientar seus filhos na busca de uma relação saudável",
completa a pesquisadora.
O levantamento teve o objetivo de investigar a percepção dos pais sobre a
exposição dos filhos às telas - televisão, celular, tablet e videogame -
durante este período em que eles estão longe das escolas e em casa em tempo
integral. A pesquisa foi realizada, entre 25
a 30 de maio deste ano, por meio de questionário online, com 1.657 pais
e mães de crianças de até 12 anos, de diversos estados do país, de todas as
classes sociais e com diferentes níveis de escolaridade.
Mais da metade dos pais que preencheram o questionário disse que estabeleceu
uma rotina para os filhos durante o isolamento (55,5%),
enquanto quase um terço tentou, mas não conseguiu. A maioria dos pais
relatou ainda um aumento da exposição dos filhos às telas durante o isolamento.
Segundo 60% dos pais, houve aumento na exposição à TV. Pouco mais da
metade citou aumento no uso do celular. Quase um terço notou aumento no uso de
tablet e quase um quarto, no uso de videogame. Tablet e videogame são as duas
telas menos utilizadas pelas crianças, com 30,6% e 37,5% dos pais
informaram que seus filhos não usam estes dispositivos, respectivamente.
A pesquisa mostra ainda que 73,4% dos pais relataram que assistir desenhos
animados ou filmes infantis é um dos principais usos que os filhos fazem das
telas no período. "Importante lembrar que este tipo de conteúdo está
disponível em pelo menos três telas: TV, celular e tablet, o que certamente
influencia a sua grande inserção entre as crianças", pontua Daniela
Teixeira. Outro dado revelado pelo estudo é de que apenas 4,4% dos pais
relataram que os filhos usam mais as telas para estudar ou assistir aula
durante o isolamento. Para 44,8% dos pais, os filhos ficam empolgados quando
usam muito as telas, enquanto que 30,4% percebem que os filhos ficam irritados
ou fazem birra.
Entre os resultados, o levantamento aponta que há um equilíbrio entre os pais
que acreditam que o excesso de telas influencia os hábitos alimentares dos
filhos: para 45,6% há influência e para 41,6% não há. Entre os que acreditam na
influência, mais da metade citou comer em frente às telas e um terço mencionou
que os filhos esquecem de se alimentar. Segundo a pesquisadora, os
resultados expõem o dilema familiar envolvendo tecnologia e crianças, que
certamente foi exacerbado em razão das condições impostas pelo isolamento
social.
"Chama atenção o alto grau de insatisfação dos pais com a situação.
Ao mesmo tempo, 80% deles terminam se apoiando nas telas como
Quem fez
Com mais de 15 anos de experiência em comunicação, com
passagem por empresas nacionais e multinacionais, Daniela Teixeira já
desenvolveu diversos projetos educacionais para o público infanto-juvenil
ao longo da carreira. Conduziu pesquisa com publicitários ingleses
e brasileiros sobre a influência da ética na tomada de decisão da publicidade
voltada para crianças. Mãe de João, Daniela Teixeira dedica-se a pesquisar o
consumo infantil e a conscientizar pais, escolas e empresas sobre como lidar
com o assunto de forma sustentável.