Pesquisa inédita - Crianças e telas no isolamento
16/07/2020

Pesquisa inédita - Crianças e telas no isolamento

Um estudo inédito conduzido pela pesquisadora Daniela Teixeira, mestre em Consumo pela Bournemouth University, na Inglaterra, mostrou que oito em cada dez pais recorrem às telas como distração para os filhos para que consigam realizar suas atividades de trabalho ou de casa durante o período de distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19. A pesquisa revelou ainda que duas das três principais atividades em que os pais mais veem os filhos envolvidos durante o isolamento incluem telas.

O levantamento teve o objetivo de investigar a percepção dos pais sobre a exposição dos filhos às telas - televisão, celular, tablet e videogame - durante este período em que eles estão longe das escolas e em casa em tempo integral. A pesquisa foi realizada, entre 25 a 30 de maio deste ano, por meio de questionário online, com 1.657 pais e mães de crianças de até 12 anos, de diversos estados do país, de todas as classes sociais e com diferentes níveis de escolaridade.

Mais da metade dos pais que preencheram o questionário disse que estabeleceu uma rotina para os filhos durante o isolamento (55,5%),
enquanto quase um terço tentou, mas não conseguiu. A maioria dos pais relatou ainda um aumento da exposição dos filhos às telas durante o isolamento. Segundo 60% dos pais, houve aumento na exposição à TV. Pouco mais da metade citou aumento no uso do celular. Quase um terço notou aumento no uso de tablet e quase um quarto, no uso de videogame. Tablet e videogame são as duas telas menos utilizadas pelas crianças, com 30,6% e 37,5% dos pais informaram que seus filhos não usam estes dispositivos, respectivamente.

A pesquisa mostra ainda que 73,4% dos pais relataram que assistir desenhos animados ou filmes infantis é um dos principais usos que os filhos fazem das telas no período. "Importante lembrar que este tipo de conteúdo está disponível em pelo menos três telas: TV, celular e tablet, o que certamente influencia a sua grande inserção entre as crianças", pontua Daniela Teixeira. Outro dado revelado pelo estudo é de que apenas 4,4% dos pais relataram que os filhos usam mais as telas para estudar ou assistir aula durante o isolamento. Para 44,8% dos pais, os filhos ficam empolgados quando usam muito as telas, enquanto que 30,4% percebem que os filhos ficam irritados ou fazem birra.  

Entre os resultados, o levantamento aponta que há um equilíbrio entre os pais que acreditam que o excesso de telas influencia os hábitos alimentares dos filhos: para 45,6% há influência e para 41,6% não há. Entre os que acreditam na influência, mais da metade citou comer em frente às telas e um terço mencionou que os filhos esquecem de se alimentar. Segundo a pesquisadora, os resultados expõem o dilema familiar envolvendo tecnologia e crianças, que certamente foi exacerbado em razão das condições impostas pelo isolamento social.

"Chama atenção o alto grau de insatisfação dos pais com a situação. Ao mesmo tempo, 80% deles terminam se apoiando nas telas como

passatempo para os filhos para conseguirem realizar suas atividades. Importante ressaltar que quase 90% dos pais entendem este momento como transitório e acreditam que o tempo de tela dos filhos deve diminuir com o fim do isolamento", afirma Daniela Teixeira. "Entender que o

período de isolamento é transitório é tão importante quanto evitar que uma rotina passageira se torne um hábito corriqueiro. Para isso, os pais precisam estar atentos ao papel das telas dentro de casa, em todo o núcleo familiar, não apenas para as crianças. É, ainda, uma oportunidade para as famílias mergulharem neste universo, compreendendo os riscos e as consequência do uso indiscriminado das telas para melhor

orientar seus filhos na busca de uma relação saudável", completa a pesquisadora. 

Quem fez

Com mais de 15 anos de experiência em comunicação, com passagem por empresas nacionais e multinacionais, Daniela Teixeira já desenvolveu diversos projetos educacionais para o público infanto-juvenil ao longo da carreira. Conduziu pesquisa com publicitários ingleses e brasileiros sobre a influência da ética na tomada de decisão da publicidade voltada para crianças. Mãe de João, Daniela Teixeira dedica-se a pesquisar o consumo infantil e a conscientizar pais, escolas e empresas sobre como lidar com o assunto de forma sustentável.